quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O poder de ser mulher!

Há mais ou menos 15 anos atrás, ainda uma menina, tive o desprazer de enfrentar pela primeira vez uma calcinha manchada de sangue. Era o monstro da menstruação que fazia mais uma vítima.

Em completo estado de choque passei horas sentada no sofá parada-olhando, esperando minha mãe chegar para dizer: “mãe, fiquei menstruada!” e descer correndo para o playgroud do meu prédio onde as outras crianças jogavam queimada sem sequer desconfiar do surreal que estava acontecendo entre minhas pernas.

No entanto, aquele sinal vermelho não seria capaz de limitar minha vida e, na primeira bola perdida, lá fui eu pulando o muro. Cheia de medo e coragem desafiando aquela novidade que me deixava tão cheia de dúvidas e inseguranças: o que significa isso? As pessoas percebem? O que vai mudar na minha vida? Será que está marcando no meu shorts?

Imersa na estranheza angustiante daquela novidade, passei o dia todo lá em baixo, fingindo não lembrar daquele sangue, tentando ignorar aquela fralda, pensando que voltar para casa nunca mais seria a mesma coisa, eu não era a mesma coisa...quem era eu?

Além do mais, ter que conversar sobre este assunto com minha mãe, era o fim!

Tracei planos infalíveis que me levassem diretamente ao meu quarto, mais precisamente sob 3 andares de edredon, escondida do mundo, de mim mesma e daquela eu que sangrava. Mas para onde quer que eu fosse, disto eu não conseguiria me livrar.

Entrei em casa e minha mãe apareceu com meia dúzia de livros sobre o tema, um pacote de absorventes e a pergunta mais cretina para aquele momento: você quer que eu te ensine a usar?!

Ahhhhhhhhhhhhhhh, socorro, pelo amor de Deus, quem ela achava que eu era? Uma retardada? Uma débil mental? E que história foi aquela de que a primeira vez que usou modess ela colou do lado errado e...chegaaaaaaaaa! Não, eu não estou preparada para isso seja lá o que isto for!

Sim, algumas garotas da escola já tinham “ficado de chico” e várias delas adoravam exibir-se por isso. Mas eu não! Eu não achava a menor graça em saber que havia sangue escorrendo de dentro de mim.

Os dias foram passando até que, um pouco menos atormentada, peguei os livros, cautelosamente escondidos no fundo do armário, e ao ler aquelas linhas e ver todas aquelas figuras fui ao mesmo tempo me assustando e me encantando com a nova realidade sanguinolenta.

Enquanto ia aprendendo sobre tensão e ciclo menstrual, espinhas e cólicas, um detalhe fez tudo mudar: a possibilidade de ficar grávida despertou em mim uma sensação completamente nova.

A função elementar de uma fêmea é a reprodução e, talvez instintivamente, a força e o significado disto fez nascer na menina que eu era a deliciosa sensação de ser mulher.

Um mundo novo abriu-se para mim, um mundo onde a bolsa passara de brinquedinho de criança a guardiã fundamental do mistério que eu agora emanava. Um lugar comum pelo qual eu, minha mãe e a Xuxa passaríamos a cada 28 dias.

Um universo totalmente feminino, recheado de cochichos, salto-alto, suspiros, depilação e gloss, onde as bonecas perdem o posto para os garotos, e eles só entram pelo buraco da fechadura.

Entre TPMs e namorados, dúvidas e decisões, menina e mulher caminham juntas, convivendo com cólicas, pílula, amigos, família, profissão, e descobrindo que, bem mais interessante do que a vida cor-de-rosa da Barbie é a realidade de pintar o olho de preto e as unhas de vermelho e conquistar o que quiser, com determinação, charme e muita fé.

É o poder de ser mulher!