sexta-feira, 14 de agosto de 2009

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Queria que meu computador virasse um piano. Sairia inventando acordes que exorcisassem essa falta, essa dor que eu também não entendo.
Queria ter um violão. Pegava ele agora, entre meus abraços e num abraço de desabafo arravanha suas cordas até gastar essa angústia indócil que insiste em me consistir.
Queria ser uma banda toda. Ou então um jardinero. Conversaria com a platéia ou com as plantas e desafogaria o nó do plexo solar.
Queria ser mais louca. Beber uma garrafa de wisky sozinha, cheirando pó. Escrevendo compulsivamente e achando a vida mesquinha me fazendo digna de dó.
Mas sou careta. Mais fácil ficar careca do que me meter numa suruba. Minha arte me sufoca.
Hoje as palavras resolveram me provocar. Saem de mim descombinadas, descompassadas e eu sem ter como segurar dedilho num desalento desesperado não achando a menor graça.
Mas passa, que bosta. Talvez se doesse por mais tempo eu me concentrasse e saísse algo de bom. Mas não, fico aqui nessa punheta, desabafando abafado e amanhã acordo boa, caio na bagunça e me dissolvo nos outros.
É que sozinha eu não consigo.
***
Nunca fui boa no amor. Engraçado isso, né?! Logo eu que sou boa em tanta coisa, no amor até hoje sempre fui meio esquisita.
Não tenho muita coragem a principio. Daí quando tenho é tamanha a intensidade que espanto.
Acho tão cruel o jeito que a gente trata o outro quando simplesmente não quer. E dói tanto quando a gente é que é tratado assim.
Cada vez que mais um não dá, choro. Faço dois furos nas folhas de todos os planos que tinha sonhado, arquivo num fichário e guardo numa prateleira bem alta. Aí sobra um espaço, fica um vazio. Dá um dózinha.
Fico pensando que os anos estão passando e mais uma vez estou eu cá, assim. Eu nunca tive mesmo muita sorte no amor.

***

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